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Estudos apresentados em vídeo não provam que chás de ervas bloqueiam proteína spike do coronavírus 333t2z

DENTE-DE-LEÃO NÃO TEVE EFEITO ANTICOVID TESTADO EM HUMANOS; ESPECIALISTAS ALERTAM QUE TRATAMENTOS SEM COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA PODEM MASCARAR DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS GRAVES 43t52

3 abr 2025 - 14h21
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O que estão compartilhando: vídeo em que um médico afirma que três estudos científicos mostraram a eficácia do dente-de-leão e do anis-estrelado para quebrar a proteína spike — estrutura presente na superfície no coronavírus, essencial para permitir a infecção pela covid. Segundo ele, essas plantas impediriam a ligação da spike com as células do corpo. 3s454o

Autores afirmam serem necessários estudos mais aprofundados para confirmarem as potenciais ações que aparecem em cultura de células.
Autores afirmam serem necessários estudos mais aprofundados para confirmarem as potenciais ações que aparecem em cultura de células.
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Os estudos apresentados no vídeo não comprovam que as duas plantas são capazes de eliminar do corpo a proteína spike. As pesquisas citadas foram desenvolvidas in vitro (em tubos de ensaio) e analisam como as células infectadas pelo coronavírus reagem ao dente-de-leão e a uma planta chamada abútua. Os pesquisadores concluíram que substâncias presentes nas ervas podem inibir a replicação viral, mas são necessários estudos mais aprofundados para confirmar essa ação. Ou seja: ainda é preciso fazer testes em animais e em humanos. Ainda não há evidências que os chás dessas plantas tenha o mesmo efeito apresentado em laboratório.

O Verifica entrou em contato com o médico Davi Rodrigues, autor do post, que não respondeu até a publicação.

Saiba mais: no vídeo, o médico cirurgião geral afirma que duas pessoas do convívio dele faleceram recentemente de morte súbita e AVC e comenta que "esses episódios estão muito frequentes na vida das pessoas". Em seguida, ele apresenta três imagens de trabalhos científicos "mostrando a eficácia do dente-de-leão e do anis-estrelado como um quebrador da proteína spike e impedidor da ligação dessa proteína spike nas nossas células". Fica sugerido que as mortes citadas anteriormente estão ligadas a essa proteína.

A spike é essencial para a entrada do vírus da covid-19 nas células humanas, pois interage com o receptor ACE2 na superfície celular — ou seja, funciona como uma "chave" para o vírus. Em imunizantes como o da Pfizer, há uma cópia sintética do RNA mensageiro do vírus, que ensina o corpo humano a produzir a proteína spike. Assim que a identifica, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos para combatê-la. A proteína é descartada em seguida e o corpo fica preparado para reagir caso haja uma infecção posterior pelo vírus.

Estudos mostram potenciais efeitos, mas não são conclusivos

O médico afirma que o consumo das plantas recomendadas por ele em chás e tinturas são formas naturais de dificultar a ação da proteína spike. Apesar de ele recomendar o consumo de anis-estrelado, nenhum dos estudos citados tratam da erva. Em dois deles foi estudada a planta Taraxacum officinale, conhecida como dente-de-leão. No terceiro, foi analisada a planta Cissampelos pareira, conhecida por nomes populares como abútua e orelha-de-onça. Essa última não é divulgada no vídeo.

No primeiro estudo, em que foi investigada a abútua, os pesquisadores fizeram análises in vitro e estudos computacionais. No primeiro caso, o extrato da planta foi colocado em contato com células infectadas pelo vírus da covid. No segundo, os pesquisadores usaram programas de computador para simular como os compostos da planta interagem com a proteína spike.

Os pesquisadores concluíram que o extrato da planta tem potencial significativo como antiviral contra o novo coronavírus. Segundo os pesquisadores, os principais compostos bioativos da erva (magnoflorina e salutaridina) se ligam fortemente a alvos terapêuticos do SARS-CoV-2, vírus que causa a covid, incluindo a proteína spike.

Para os pesquisadores, essas interações indicam que esses compostos podem interferir nos processos essenciais para a replicação viral. Os resultados sugerem que a planta pode ser explorada como uma potencial terapia complementar ou alternativa contra o SARS-CoV-2.

A segunda e a terceira imagens apresentadas no vídeo são de um mesmo artigo, publicado em diferentes sites de divulgação científica. Aqui, os pesquisadores analisaram o efeito, também in vitro, do extrato aquoso da folha do dente-de-leão na interação entre o receptor ACE2 (proteína presente na superfície de células humanas) e a spike em diferentes mutações do vírus da covid.

O estudo concluiu que o extrato aquoso tem potencial para inibir a interação entre a proteína e o receptor em todas as variantes pesquisadas. Essa inibição indica uma possível aplicação como estratégia preventiva contra infecção.

Em ambos casos, os responsáveis pelas pesquisas sugerem que os resultados in vitro encorajam pesquisas adicionais sobre a relevância clínica e aplicabilidade das plantas como medida preventiva contra a covid-19.

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Especialistas apontam limitações das pesquisas

Conforme especialistas ouvidos pelo Verifica, nos dois casos os estudos são limitados, porque os resultados não foram testados em pessoas.

"Não dá pra pegar um resultado de um estudo em cultura de células e recomendar que alguém use, porque pode não ter ação nenhuma no ser humano", explica o doutor em infectologia Celso Granato, professor aposentado da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

De acordo com ele, os pesquisadores adicionaram extratos das substâncias em culturas de células, observando que houve diminuição da produção da spike.

"Isso é uma boa notícia, mas é a fase pré, pré, pré-clínica de um estudo", explicou.

Isso significa que ainda não há como saber se a substância funcionará da mesma forma em seres vivos.

"O próximo o seria fazer um estudo clínico em animais, como o cachorro e depois em macaco, subindo na escala zoológica até chegar em voluntários normais e depois em doentes. Só então pode chegar na farmácia", exemplificou.

O infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), fez uma observação semelhante, afirmando que não há evidência que esses extratos de plantas tenham algum efeito benéfico na prevenção, tratamento ou consequências da covid-19.

"Dizer que há proteção e benefício porque tem ação dentro de tubo de ensaio é anticientificismo", afirmou.

Kfouri alertou que utilizar algo sem comprovação científica pode dar a falsa sensação de que um problema está sendo tratado, enquanto uma doença grave se desenvolve sem receber tratamento adequado.

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Chás e tinturas podem ser tóxicos

Os dois médicos consultados pela reportagem destacam que nem sempre os chás e tinturas são inofensivos. Eles podem trazer riscos à saúde, principalmente em doses não controladas. Tanto Kfouri quanto Granato afirmam que algumas plantas podem ser tóxicas.

"Não é porque é natural que é bom. Tem um monte de drogas usadas dessa forma que podem dar falência de fígado, por exemplo", afirmou o ex-professor.

O mesmo foi observado em checagem anterior do Verifica por Patrícia Almeida, hepatologista do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, e por Ana Leatrice de Oliveira Sampaio, gastrohepatologista da Universidade Federal do Maranhão.

Em 2023, combatendo desinformação sobre vacinas de RNA mensageiro, o Conselho Federal de Farmácia informou que, ao contrário do esperado "efeito detox" sobre a proteína Spike, receitas milagrosas podem, na verdade, causar intoxicações.

Estadão
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